segunda-feira, 3 de março de 2008

ARTIGO: DESENVOLVIMENTO URBANO E MOBILIDADE SUSTENTÁVEL

DESENVOLVIMENTO URBANO E MOBILIDADE SUSTENTÁVEL

Olá,

Este é o segundo da série prevista de artigos mensais.
Em janeiro o Paulo comentou: “A explosão populacional, acompanhada da ausência de infra-estrutura adequada, está nos levando para o caos. Como garantir um crescimento sustentável? É hora de mobilização”.

Ele fala de temas que se pretende abordar, nessa ordem:
1 - Densidade Populacional e Impactos Ambientais
2 - Busca de Soluções para o Desenvolvimento Urbano
3 - Cidades sem Carro
4 - Sustentabilidade
5 - Cidades Sustentáveis
6- Mobilidade Sustentável (MS)
7 - Transporte Não Motorizado (TNM)
8- Recomendações de Incentivo à MS - Problemas Gerais Encontrados.
9- Recomendações e Propostas
10- Educação para o Trânsito e para a Mobilidade Sustentável na Europa e na América do Norte
11- Educação para o Trânsito e para a Mobilidade Sustentável no Brasil
12 - Resumo dos principais tópicos e opiniões dos internautas.

Junto com a pergunta “Como garantir um crescimento sustentável?”, vem também a resposta: “É hora de mobilização”.

Hoje começamos voltando no tempo, para refletir sobre as diversas mobilizações e conseqüente evolução das cidades onde vivemos. Para sonhar com a cidade ideal.
Saudações,
*LOURDES ZUNINO ROSA

2- Busca de Soluções Para o Desenvolvimento Urbano

As primeiras cidades se localizaram junto a rios navegáveis como o Tigre, Eufrates e Nilo. Em seguida se desenvolveram junto ao mar. Ao longo da história, o transporte de pessoas e mercadorias se apresenta como problema e solução para o desenvolvimento urbano.

“As sociedades primitivas opunham-se ao poder arbitrário de um único indivíduo e estimulavam a cooperação em lugar da competição. O planejamento, nesses grupos, diversamente do que viria a suceder em culturas mais adiantadas, tendia para o consenso” (GUIMARÃES, 2004).

O homem se desenvolveu buscando sua sobrevivência. Hoje entende que precisa cuidar também da sobrevivência do planeta. Supõe-se que culturas ainda mais adiantadas conseguirão retomar o consenso, a cooperação necessária para equilibrar o desenvolvimento urbano e o meio ambiente em busca da sustentabilidade.

A Cidade Ideal

Com o desenvolvimento urbano surge a busca pela cidade ideal. Cidades fortificadas fundamentadas em critérios somente racionais e geométricos marcaram época, respondendo aos anseios de defesa do momento histórico


Planta – baixa de cidades fortificadas (GUIMARÃES, 2004)


A mobilidade entre as cidades, durante muitos séculos, é restrita à energia humana e animal. Os impactos ambientais do sistema de transportes não faziam parte das preocupações cotidianas até o início da revolução industrial, quando o transporte marca o desenvolvimento urbano através das ferrovias.



“A partir de 1840, a estrada de ferro e o capitalismo teriam um desenvolvimento conexo, com a estrada de ferro tornando-se a mais poderosa arma da economia” (GUIMARÃES, 2004). Como conseqüência, a especulação do solo urbano se acelera e muitas cidades se tornam insalubres pela proximidade com as fábricas e com as estradas de ferro. A primeira metade do século XIX seria marcada por protestos contra a sordidez, a sujeira e a miséria.
A reação surge com novos paradigmas de organização das cidades, como o planejamento urbano de Paris, por Hausmann, e de Barcelona, por Cerda, que derruba as muralhas medievais da cidade, permitindo sua expansão com uma malha geométrica inovadora enquanto sistema viário e quadras com jardins internos que se comunicavam com as ruas, permitindo aeração e iluminação das construções (VALLEJO & TORNER, 2002).
Note-se aqui que o planejamento urbano na época, buscava privilegiar a ordenação do espaço, eliminando barreiras para iluminar e ventilar. Nas fotos abaixo, atuais, já não se percebe esse enfoque (outras reações estão hoje em curso e serão abordadas em outros artigos).


Vista aérea de Paris e Barcelona (fotos da rede).


Cidades Jardim
Em contraposição ao movimento de expansão das cidades, a reação também se dá na forma de cidades jardins, comunidades auto-suficientes, interferindo no ambiente natural e construído, visando a uma vida mais saudável. Destacam-se três empreendedores europeus nessas ações: Robert Owen (1771-1858), Charles Fourier (1772-1837) e Ebenezer Howard (1850-1928). Todos são associados ao socialismo utópico, mas, ao contrário “do não lugar” – utopia, suas idéias foram concretizadas e habitadas.
Idealizadas com ruas largas e arborizadas, tinham na área central as construções públicas (teatro, museu, administração pública, hospital, galeria de artes), além de terrenos espaçosos para as residências, escolas, igrejas, quadras de jogos e um cinturão verde envolvendo todo este espaço.
Após o cinturão, estaria o comércio e as indústrias próximos à estrada de ferro para facilitar a entrada e a saída de mercadorias. Quando a população não pudesse mais crescer de forma ordenada, outra cidade-jardim seria construída com as mesmas diretrizes e a implantação de um meio de transporte faria a integração entre as cidades (CHOAY, 1965). Se espalharam na Europa e nos Estados Unidos a partir dos anos 1920, mas poucas ainda existem como Letchwoth e Radburn.



Do conceito de cidade jardim, perdurou até os dias de hoje o conceito de cinturão verde (green belt), que é usado atualmente na Inglaterra como política para proteção do campo, prevenção do espalhamento das grandes cidades e proteção de sítios históricos (RTPI, 2004). Faz parte também da política de desenvolvimento sustentável em outros países da Europa (PAULEIT, 2005). No Canadá, surgiu na década de 60 para conter o espalhamento das cidades. Em Ontário, o cinturão verde tornou-se parque nacional (OTAWA, 2006).
Entre os idealizadores do movimento, Owen acreditava que os homens são o que a educação (ou sua falta) faz deles. Suas propostas de economia solidária preconizavam a educação como base para uma sociedade mais justa. Apesar da meta de comunidade cooperativa ter sido abandonada, o cooperativismo continuou a se expandir e existe até hoje em diversas formas de organização (SINGER, 2002).

A Carta de Atenas
No início do século XX, a busca da cidade ideal surge com o movimento moderno, funcionalista, empreendido por Le Corbusier, Gropius e outros seguidores, acreditando que um estilo e uma prática internacionalizados ultrapassariam as fronteiras geográficas e temporais, em busca de uma realidade total para a raça humana.
Ao contrário dos blocos de edificações fechadas, planejados em quadras, típicos do movimento de expansão das cidades européias na segunda metade do século XIX, os novos princípios de organização sugerem grupamentos de edificações abertas. Os quatro princípios que sustentam o funcionamento da cidade são: habitar, trabalhar, cultivar o corpo e o espírito e circular com relação a essas atividades. A zonificação, com sua segregação espacial, se consolida como condição de eficácia funcional da cidade moderna. A nova concepção de cidade é justificada na Carta de Atenas (manifesto urbanístico resultante de Congresso Internacional de Arquitetura Moderna, realizado em Atenas em 1933):
“A cidade não é mais do que uma parte do conjunto econômico, social e político que constitui uma região; o crescimento da cidade devora incontrolavelmente suas periferias verdes, privando os seres vivos de sol, espaço e vegetação; as novas construções em altura deverão situar-se distanciadas entre si, liberando espaços verdes que devem conter construções de uso comunitário ligadas às habitações residenciais; setores industriais devem ser independentes, localizados junto à água, ferrovias e auto-estradas; os centros de negócios deverão se situar na confluência das vias de circulação.” (VALLEJO & TORNER, 2002).



A Carta de Atenas torna-se a base para o planejamento internacional das cidades. A imagem do modernismo domina o planejamento urbano do século, mas o caráter da cidade ideal, aos poucos, se perde. Niemeyer e Lucio Costa estão entre os urbanistas brasileiros de maior destaque desse período.
Fundamentado na energia fóssil necessária para a fabricação de aço, vidro, concreto e, sobretudo, para o deslocamento nas cidades planejadas para veículos motorizados, o estilo internacional não foi superado.
Durante esse século, os impactos ambientais urbanos se propagam com a mecanização na indústria em geral e com o crescimento e expansão da indústria automobilística em particular. Surgem as highways. Os carros passam a representar conforto e um novo estilo de vida. O ritmo de vida se acelera.
Ivan Illich, teórico em educação, energia e ecologia, em um artigo sobre energia e eqüidade escrito em 1973, atacou conceitos estabelecidos na época pela sociedade ocidental, afirmando, por exemplo, que os automóveis contribuíam para diminuir a velocidade dos deslocamentos e que, mais importante do que procurar novas fontes de energia, seria mudar seu consumo. O autor classifica o impacto dos deslocamentos motorizados em destruição do ambiente físico, disfunções econômicas e sociais, energéticas, falta de tempo, espaço e sedentarismo (ILLICH, 1973).
A favor das cidades compactas, ILLICH (1973) afirma que “existe um lugar para um mundo de maturidade tecnológica. Em termos de circulação, este é o mundo daqueles que ampliaram seus horizontes a treze quilômetros montados em sua bicicleta (...). A reestruturação do espaço que oferece a cada pessoa a experiência, constantemente renovada, o conhecimento de que o centro do mundo é onde ela vive”.

Bibliografia
CHOAY, F. (1965) O urbanismo: utopias e realidades, uma antologia. Tradução de Dafne Nascimento Rodriguez. 5ª edição, 2003. São Paulo, Perspectiva.
ILLICH, I. (1973) Energia e Eqüidade. In: Apocalipse motorizado. A tirania do automóvel em um planeta poluído. Ned Ludd. São Paulo, Conrad Editora do Brasil, (2004), pp. 33- 71.
OTTAWA (2006) National Capital Green belt. Disponilvel em: . Acesso em: 30 de dezembro de 2006.
PAULEIT, S. (2005) Greenstructure planning, introduction. Chapter 3. Disponível em: . Acesso em: 30 de dezembro de 2006.
RTPI (2004a) The Royal Town Planning Institute. Disponível em: . Acesso em: 02 de fevereiro de 2007.
SINGER, P. (2002) Introdução à Economia Solidária. São Paulo, Editora Perseu Abramo.
VALLEJO, M. & TORNER, F. (2002) La ingeniería en la evolución de la urbanística. Barcelona, Ed. Universidade Politécnica da Catalunha.

*LOURDES ZUNINO ROSA
Mestre em Arquitetura pela FAU/UFRJ (1992), Doutora em Engenharia de Transportes pela COPPE/UFRJ (2007).

Autora de livros sobre conforto ambiental, acústica arquitetônica e material didático sobre eficiência energética em edificações, sistemas de construção não convencionais, urbanismo e mobilidade sustentável para os cursos que ministra em faculdades e instituições.
Diretora da Oficina Conforto Ambiental Consultoria e Projetos Ltda.
Atualmente procura aplicar nos projetos comerciais que realisa, conceitos de sua tese - Parque da Mobilidade Sustentável: propostas para expansões urbanas, centro de bairro ou módulo mínimo, projeto e gestão com foco na mobilidade e desenvolvimento sustentável.
Contato: luzunino@oi.com.br

Fonte: www.pikidatrilha.blogspot.com

2 comentários:

Anônimo disse...

PARABÉNS AO BICICLETA DF PELO RETORNO ÀS ATIVIDADES.
CONTEM COMIGO
Marcelo Farias

Anônimo disse...

bom gostei do bloq eu espero que vc passa as leis da ciclovia